Reconhecer perdas minimiza deterioração da imagem da estatal, mas credibilidade já está em xeque
POR O GLOBO
SÃO PAULO – O atraso na publicação do balanço de uma empresa de capital aberto do porte da Petrobras, motivado por perdas de valor causadas por corrupção, é inédito na história do mercado de capitais brasileiro, dizem especialistas.
De acordo com esses analistas, sem a rubrica da consultoria independente PricewaterhouseCoopers (PwC), o balanço se torna uma “peça de ficção”, prejudicando a imagem da empresa. Nesta situação, dificilmente a empresa terá acesso a captações no exterior, dizem os especialistas. A petrolífera prometeu apresentar um balanço não auditado no próximo dia 12 de dezembro.
– Estamos diante de uma situação inédita, pois sem balanço auditado a empresa perde a credibilidade diante dos investidores nos mercados doméstico e internacional – diz Fernando Zilveti, advogado e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (FGV).
Ele lembra que a exigência de balanços auditados por firmas independentes foi introduzida no Brasil em 1986, na reforma da Lei das SA. Antes disso, o mercado de capitais era pouco regulado. Desde então, o advogado observa não ter conhecimento de que uma companhia tenha deixado de apresentar números auditados por causa de corrupção.
Outro advogado de um grande escritório de São Paulo, que prefere manter o anonimato, diz que o melhor agora seria que a estatal reconhecesse as perdas no balanço, fizesse a reavaliação de seus ativos e admitisse rever os números apresentados no passado. Com isso, poderia convencer a PwC a chancelar seu balanço, mesmo que a consultoria mantenha ressalvas no documento, informando que as investigações sobre os desvios de recursos da estatal ainda estão em curso.
O profissional afirma que o reconhecimento de perdas, mesmo que parciais, e a admissão de que os prejuízos podem ser maiores do que o esperado, poderia reverter parcialmente o baque na imagem da Petrobras no mercado.
– Reconhecer que o prejuízo pode ser maior do que esperado sinaliza que a empresa tem boa-fé no caso. E um balanço auditado, mesmo com alguma ressalva, é melhor do que números sem aval de uma consultoria independente, permitindo que a companhia realize captações no exterior – diz o advogado, que prevê entretanto que a empresa terá que pagar juros mais altos.
Para o consultor Luiz Marcati, sócio da Mesa Corporate Governance, consultoria especializada em governança corporativa, mesmo que a Petrobras consiga apresentar um balanço auditado, com o valor dos ativos corrigido, a credibilidade de demonstrações passadas já está em xeque. Uma alternativa seria registrar as perdas parciais no valor dos ativos este ano e diluir eventuais prejuízos do passado em balanços futuros.