Os desafios da atuação mais sofisticada

Alteração frenética da legislação exige constante aperfeiçoamento. Além disso, as grades curriculares também sofreram mudanças

Rita Karam

SÃO PAULO – Mudanças impostas nos últimos anos, como a adoção dos padrões internacionais de contabilidade  International Financial Reporting Standards (IFRS) e a implantação do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), com aumento das exigências do Fisco, dão um novo papel ao empresário contábil junto a seus clientes.

O cenário também exige mais desses profissionais para acompanhar e tornar claras as frequentes alterações na legislação fiscal e tributária, orientar a operação de sistemas informatizados, conhecer normas mas internacionais e manter equipes capacitadas para assegurar a agilidade que se impõe com as mudanças que são implantadas.

Tecnologia e treinamento constante são ferramentas fundamentais para garantir a qualidade necessária aos serviços prestados.

Sofisticação

“O contador sempre foi um consultor, mas agora está mais sofisticado”, afirma o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisa no Estado de São Paulo (Sescon-SP), Sérgio Approbato Machado Júnior. “As mudanças aproximaram o dono das pequenas empresas dos empresários da contabilidade, e essa aproximação está valorizando cada vez mais este profissional”, diz.

Mas o novo cenário também trouxe novos desafios. “Foi preciso reaprender a contabilidade, conhecer mais o negócio”, diz o sócio da King Contabilidade, Márcio Massao Shimomoto. Para ele, o controle da inflação funcionou como um divisor de águas na relação entre os empresários contábeis e seus clientes. “Com a inflação em 70% ao mês, os números não representavam nada; quando a inflação foi controlada, eles passaram a servir realmente como ferramenta de gestão”, analisa o sócio da King Contabilidade. A internacionalização dos padrões contábeis e o sistema digital reforçaram esse relacionamento.

Novos desafios

“Atualmente é preciso ter um perfil mais de gestor, saber administrar o negócio, gerir pessoas, lidar com conflitos internos que surgiram com os prazos mais curtos impostos pelo Fisco, especializar-se mais em finanças e saber vender o conhecimento”, resume o diretor do grupo Oberle, Fernando Oberle. “Não adianta mais atuar apenas como um escritório contábil. O contabilista hoje tem de implantar sistemas, parametrizar, colocar a legislação em linguagem fácil. Tem que sair de trás da mesa e estar dentro do cliente. Ele tem papel fundamental na tomada de decisão”, acrescenta.

Oberle mantém em carteira atualmente 180 clientes ativos e diz que as exigências aumentaram, muitos passaram a pedir, por exemplo, balancetes mensais, mas considera que o retorno financeiro não veio na mesma medida, e também enfrenta inadimplência.  Para ampliar a prestação de serviços e atender a maior demanda, a empresa firmou parcerias para oferecer, por exemplo, auditoria e consultoria financeira e em gestão.

Ter conhecimento de tecnologia, de tributação, de negócios internacionais, falar outros idiomas e se manter atualizado são alguns dos principais desafios dos profissionais da área apontados pelo presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC-SP), Claudio Filippi. A partir deste ano, será exigido curso superior para obtenção do registro nos CRCs, necessário para a abertura de empresas. No caso dos cursos técnicos, apenas os formados até 1º de junho poderão prestar o Exame de Suficiência para obter o registro da profissão.

Os maiores desafios impostos a esses profissionais provocaram um efeito em cadeia em todas as entidades vinculadas à área, com crescimento no número de palestras, seminários, oficinas e cursos, inclusive a distância, para garantir a capacitação necessária ao atendimento das novas regras. A Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas (Fenacon) oferece pelo menos dois cursos todo mês, que podem ser feitos via web e, em 2014, contaram com seis mil participantes, informa o presidente da entidade, Mario Berti. Pelos dados da Fenacon, são hoje 90 mil empresas atuantes na área, com faturamento médio mensal de R$ 60 mil. Berti diz que também os sindicatos já se mobilizam para oferecer cursos de formação de gestores. Com as novas exigências do mercado, algumas empresas estão fechando contratos de experiência por 90 dias para medir a demanda que o cliente terá e depois adequar os preços.

Tecnologia ajuda na gestão de escritório contábil
Gilmara Santos

São Paulo – Se, por um lado, os profissionais contábeis têm papel decisivo nos negócios dos seus clientes, cuidando de vários aspectos para garantir uma gestão de custos eficiente, por outro, o mesmo nem sempre ocorre dentro do seu escritório.

“O controle de custos é uma necessidade constante e deve estar sempre presente nas decisões e no planejamento dos negócios de modo geral”, destaca o vice-presidente do Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRS-SP), Gildo Freire de Araujo. Entre as dicas dos especialistas, está a utilização do processo eletrônico, além de uma equipe em constante treinamento. “As empresas contábeis precisam de líderes capacitados para dar treinamentos e acompanhar os trabalhos realizados. O não cumprimento de obrigações acessórias por parte do empresário da contabilidade pode gerar multas. O cumprimento de forma incompleta ou errônea pode causar enormes prejuízos à organização”, destaca Araujo.

“Hoje temos sistemas que podem mapear os custos do escritório e mensalmente é possível fazer o acompanhamento da carteira de clientes, inclusive com comparativos”, sugere o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP), Sérgio Approbato Machado Júnior. Para ele, com esses sistemas é possível ainda identificar se o custo da firma contábil aumentou por conta de alguma mudança no mercado.

Planejamento auxilia na competitividade
Vladimir Goitia

São Paulo – Aliviar, reduzir e, em alguns casos, até eliminar a carga tributária estão entre os grandes desafios do planejador tributário, que busca alternativas legais às quais ele possa recorrer com a finalidade de calcular impostos que, rigidamente, precisam ser recolhidos ao Fisco.

Segundo especialistas do setor, o contabilista passou a ser peça fundamental na elaboração e execução desse planejamento, cujo objetivo é buscar menos ônus fiscal sobre operações e produtos.

Sócio-fundador da WFaria Advogados, Wilson De Faria avalia que o planejamento tributário é hoje uma atividade quase artesanal, e a solução para cada empresa deve ser sempre “tailor made”. Em outras palavras, isso quer dizer que, no mundo fiscal, não existem dois casos iguais. Assim, o modelo fiscal precisa ser planejado sob medida para cada empresa, mesmo sendo do mesmo setor de atividade. Ele avalia que nem sempre um estudo do planejador tributário visa reduzir a carga fiscal, mas definir quais impostos são devidos. Muitas vezes, segundo ele, não está claro para o contribuinte quais impostos deve pagar.

Gerente tributário da Studio Fiscal, José Gado acrescenta que o planejamento tributário também é excelente ferramenta de atuação no mercado, pois pode torná-la mais competitiva, uma vez que terá condições de ofertar um produto ou serviço a preço mais baixo pela redução no seu custo tributário.

Definir preço de serviços especiais ainda é um desafio
Gilmara Santos

São Paulo – Definir o valor a cobrar pelos serviços especiais prestados aos clientes é um dos desafios para os escritórios de contabilidade. Diferentemente dos serviços tradicionais, os especiais não contam com tabela de preços e, por isso, a cobrança nem sempre é tarefa fácil.

“Não há tabela de preços. Mas, assim como um advogado, a precificação vai depender do currículo da banca, experiência e tradição”, comenta o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP), Sérgio Approbato Machado Júnior.

Na maioria dos casos, os escritórios de contabilidade levam em consideração o valor cobrado pelos concorrentes. É o que mostra estudo realizado pelo empresário contábil Roberto Dias Duarte, que aponta que 65% das organizações contábeis praticam preços dentro da média de mercado.

“Antes de precificar, é importante alinhar as expectativas entre cliente e prestador de serviço”, sugere Jaime Rodrigues, da Trevisan Gestão e Consultoria. Segundo especialistas, é preciso definir os elementos de custeio do serviço e os recursos que serão alocados para o projeto. “A percepção de valor que o cliente tem sobre o serviço prestado e a qualidade dos mesmos também definem o valor a ser cobrado”, considera o coordenador do MBA em contabilidade do Ipog, Edgar Madruga.

Fonte: DCI – SP

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