Postado em 19/09/2017 – Fonte: Jornal do Comércio-RS
O presidente do Sescon-RS destaca a importância dos profissionais
Roberta Mello Acostumados a realizar e acompanhar o desempenho das empresas dos mais diferentes segmentos empresariais, é chegado aquele momento do ano em que muitos contadores fazem um balanço da sua atividade profissional, da sua empresa e do serviço prestado à sociedade.
O Dia do Contador, comemorado nesta sexta-feira, 22 de setembro, é, para muitos, hora de refletir sobre tudo o que foi feito ao longo do ano e sobre as mudanças nas exigências que pesam nos ombros dos profissionais. A partir desse balanço, é possível analisar os dados e gerar informações qualificadas e úteis para a tomada de decisões – desta vez, relativas ao gerenciamento da própria carreira. Neste ano, a data é marcada, ainda, pelo novo projeto gráfico do caderno JC Contabilidade, um presente a todos os profissionais contábeis nesta semana de comemorações. O suplemento completa 15 anos de relacionamento estreito com os contadores e a sociedade gaúcha, e de compromisso com a veiculação de informação qualificada e especializada.
Em 2017, o País ainda vive uma situação política e econômica instável. Os escândalos de irregularidades envolvendo os setores público e privado, que levaram o já conhecido “jeitinho brasileiro” a um outro patamar, expõem a necessidade de mudanças no ambiente empresarial. Paralelamente, a crise econômica enfrentada pelos brasileiros apenas recua. Não cessa. Agora, como diz o empresário contábil e presidente do Sescon-RS, Diogo Chamun, a retração chega à prestação de serviços, setor que inclui os profissionais contábeis. “O primeiro segmento atingido foi a indústria, depois o comércio sentiu e, agora, é a vez do setor de serviços. Estamos no meio da crise. É o momento de se aproximar dos clientes e negociar, se repaginar”, avisa Chamun. A expectativa, no entanto, é que a recuperação comece já a partir de 2018. O presidente do Conselho Regional de Contabilidade (CRCRS), Antônio Palácios, acredita que é na época de crise que surgem as maiores oportunidades. “Quando há escassez de recursos e cada movimento é decisivo, os empresários não podem se dar ao direito de tomar atitudes erradas. O contador é quem tem a capacidade de dar alternativas para que os gestores tomem decisões com foco”, pontua Palácios.
Ainda que assuste, a conjuntura atual não pode, portanto, paralisar o contador, que se mantém entre os 15 mais requisitados pelo mercado, conforme levantamento da empresa especializada em recrutamento e seleção para média e alta gerência, Wyser, divulgado neste ano. É exatamente na hora de rever gastos, repensar a estrutura das empresas, implementar ferramentas de controle e compliance, ou se preparar para o Imposto de Renda ao longo do ano, que o trabalho do contador pode ser ainda mais importante. A contadora e vice-presidente de Gestão do CRCRS, Ana Tércia Rodrigues, destaca que o mercado empresarial vem mudando e irá se alterar muito mais. “Nós temos expectativa de que, nos próximos cinco anos, tudo seja feito de forma mais rápida, dinâmica, simplificada do que vem sendo feito hoje”, aponta. A ligação estabelecida entre escândalos recentes e a área de Ciências Contábeis, seja através da “contabilidade criativa” ou da sonegação de impostos, entre outros crimes praticados por empresários e gestores públicos, continua preocupando os especialistas.
Como resposta a isso, o ano de 2017 foi marcado, ainda, pelo avanço nas discussões de uma nova norma para o código de ética da categoria. A Resposta ao Descumprimento de Leis e Regulamentos, ou Noclar (sigla em inglês para Responding to Non-Compliance with Laws and Regulation), permite que o contador informe aos órgãos competentes inconformidades ou ilegalidades encontradas nas empresas e demais entidades para as quais presta serviço. O Código de Ética Profissional do Contador brasileiro prevê, em seu segundo capítulo, o direito a não reportar irregularidades caso as autoridades não o solicitem. A Noclar prevê inicialmente a comunicação com os responsáveis pela governança da entidade para que tomem as devidas providências para correção da situação. Caso não sejam tomadas as providências, aí, sim, o profissional deve fazer a avaliação quanto à comunicação e a quem comunicar entre as autoridades. Por esse prisma, a Receita Federal atua como uma parceira na otimização da geração de conteúdo, cruzamento de informações e criação de tecnologias.
O superintendente da Receita Federal no Rio Grande do Sul, Paulo Renato Silva da Paz, lembra que o órgão tem avançado muito em mineração de dados, em inteligência artificial na área de identificação de fraudes, de seleção de contribuintes para fiscalização. “A capacidade de processamento de dados e de cruzamento de informações têm sido espantosa, mesmo para nós, habituados com essa realidade”, destaca Paz. Sob a ótica dos contribuintes, em termos de pessoa física, o principal avanço recente é a declaração pré-preenchida de Imposto de Renda Pessoa Física, que facilita a elaboração da declaração pelo contribuinte e pelo contador. “Em um futuro breve, deveremos ter uma nova solução para a certificação digital, que irá facilitar o dia a dia das pessoas físicas no relacionamento do Fisco com o contribuinte.” Quando o assunto é pessoa jurídica, o ambiente do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), com o conjunto de escriturações eletrônicas (NFe, ECD, EFD, NFSe, eSocial, entre outras), se constitui em uma referência mundial em termos de modernidade e uso da tecnologia.
Curiosidades
> O Dia do Contador é comemorado no dia 22 de setembro em alusão à data em que foi promulgado o Decreto-Lei nº 1.988, que determinou a criação do curso superior de Ciências Contábeis e Atuariais e de Ciências Econômicas no Brasil. O decretou foi assinado em 1945 pelo presidente Getúlio Vargas.
> Um ano depois, o Decreto-Lei nº 9.295/1946 criou o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e definiu as atribuições do contador e do técnico em contabilidade. A Resolução CFC nº 560, de 28 de outubro de 1983, no artigo 3º, também discorre sobre as funções dos contadores e técnicos em Contabilidade.
> Conforme dados do CRC de São Paulo, a primeira comemoração ao Dia do Contador aconteceu em Brasília, em 22 de setembro de 1982, na Ordem dos Contadores do Brasil, que era presidida pelo contador e senador Gabriel Hermes Filho. O contador Harry Conrado Schüler, secretário-geral da ordem, foi quem propôs a comemoração.
> O Brasil conta com mais de 530 mil profissionais contábeis, entre contadores (349 mil) e técnicos em contabilidade (181,297 mil).
> Apenas no Rio Grande do Sul, são quase 39,578 mil profissionais. Deste total, 24,738 mil são contadores.
> O Estado é o quarto com o maior número de profissionais contábeis no País, atrás apenas daqueles situados na região Sudeste do País – São Paulo (151,295 mil), Minas Gerais (56,320 mil) e Rio de Janeiro (55,369 mil).
Academia precisa se reinventar para atender às necessidades do mercado
Uma das questões mais desafiadoras para a academia talvez seja diminuir a distância entre o mercado e o que realmente se desenvolve dentro dos programas dos cursos de Ciências Contábeis. “Um dos principais termômetros da qualidade dos egressos das faculdades, o Exame de Suficiência revela que a qualidade do ensino não é boa”, lamenta a contadora e professora universitária Ana Tércia Rodrigues. Além disso, ao entrar em contato com contadores e empresários em atividade, essa percepção é repetida quase em uníssono. As empresas, diz Ana Tércia, acabam tendo que assumir parte do papel de capacitação e treinamento para ter um funcionário alinhado ao padrão desejado. “Uma saída para diminuir esse distanciamento é estabelecendo um diálogo”, propõe a contadora, alertando para o fato de que não se pode perder de vista que as instituições de ensino também têm de repassar um conhecimento teórico para além da prática. Para ela, a atividade acadêmica, como todos os outros setores do mercado, precisa se reinventar. “Assim como acompanhamos movimentos em segmentos tradicionais, como, por exemplo, na área de transporte e de hospedagem, que sentem o impacto com a entrada de novos players que mudam a forma de se fazer, o ambiente acadêmico precisa de uma remodelação. Não se sabe exatamente como fazer, mas eu penso que é através da tecnologia”, reflete.
Contadores assumem postura gerencial nos negócios
Cada vez mais, o profissional assume outros papéis na relação com o empresário e na intermediação que faz entre o empresariado, os organismos arrecadadores e o Fisco. E as mudanças constantes nas legislações e o avanço tecnológico exigem atualização regular por parte dos contadores. O presidente do Sescon-RS, Diogo Chamun, defende a maior participação no cotidiano dos clientes como principal saída para continuar no mercado. “Não se trata apenas de manter o cliente, mas de proporcionar que as empresas sigam em operação”, sintetiza. A ideia é o contador se reinventar na função gerencial. “Devemos ser, cada vez mais, auxiliares na gestão dos negócios, ajudando a repensar o negócio, encontrar alternativas para bons investimentos, sinalizar os riscos e apontar tendências”, determina a contadora Ana Tércia Rodrigues. Vencido o excesso de burocracia, que, na opinião de Ana Tércia, está com os dias contados, é preciso assumir o protagonismo no processo de tomada de decisão, e não mais o papel de coadjuvante, que está a serviço de interesses de determinados segmentos”. Essas atitudes são respostas ao grande desafio para a categoria de conquistar a valorização e o reconhecimento do serviço prestado, segundo o presidente do CRCRS, Antônio Palácios. “Depende do profissional mostrar que não está ali apenas para fazer lançamentos contábeis. Ainda tem quem nos veja apenas como guarda-livros, e isso tem que mudar.” Alguns caminhos para acabar com esse estereótipo são investir em qualificação profissional, apresentar os conteúdos de forma mais acessível aos clientes e ir além do que já é esperado, agregando valor ao trabalho realizado.
Auditoria continua em alta, mas deve se tornar menos ‘hermética’
A auditoria se mantém como uma das áreas da Contabilidade que mais atraem profissionais, principalmente recém-formados, e se consolida como determinante inclusive para aquelas organizações que não estão obrigadas a fazer prestação de contas. A crescente busca por segurança em todos os dados submetidos ao Fisco faz com que o mercado demande por auditores, instale comitês de auditoria em sua estrutura organizacional e lance mão de softwares capazes de verificar a eficácia dos processos adotados. Porém quem ingressa nesse segmento precisa estar atento às enormes mutações, que vão desde questões técnicas, como as novas regras do relatório do auditor independente, até a necessidade de se tornar “menos hermético”. “A auditoria passa pelo momento de maior mudança em sua história”, aponta o presidente do CRCRS, Antônio Palácios, que também atua na área. O desafio da atividade, segundo ele, é se tornar mais acessível à sociedade em geral. “O cliente até tem a oportunidade de conversar com o auditor para entender os pontos levantados, mas a população também tem interesse nas informações empresariais, principalmente das companhias de capital aberto”, pontua. Palácios defende que é preciso deixar claro qual é o papel do auditor, até para que não recaia sobre esse profissional responsabilidades que não pode cumprir. “A auditoria não tem por objetivo identificar fraudes. O que se faz é verificar se a companhia tem procedimentos de controle para evitá-las”, esclarece Palácios.
foto: Chamun destaca a importância dos profissionais como agentes que mantêm as empresas em operação /FREDY VIEIRA/JC