Nacionalizar peças é saída para alta de custos

Mesmo com a fabricação local de smartphones, muitos componentes são importados e empresas agora devem buscar a produção no País para driblar os efeitos da recente disparada do dólar

Amauri Vargas

São Paulo – A nacionalização de componentes deve ser a saída para as grandes fabricantes de smartphones, como as sul-coreanas Samsung e LG, evitarem as perdas causadas pela disparada do dólar. O impacto no comércio de 2015 já foi detectado pelo IDC, que antes previa vendas 18% maiores no ramo, mas reviu o dado para 16%.

Como a alta da moeda estrangeira eleva os preços dos componentes importados, o valor final dos produtos precisa acompanhar o crescimento do custo, mesmo quando a montagem das peças ocorre em plantas daqui.

No entanto, componentes como os processadores – que são o cérebro dos dispositivos – ainda são em grande parte importados. As peças são fornecidas por companhias com presença global como Qualcomm, Intel e Mediatek. Essas empresas fabricam as placas em instalações de terceiros, em países como Taiwan, Coreia do Sul, Indonésia, China e Hong Kong.

Investimentos

Para evitar a importação que coloca as fabricantes no papel de refém da moeda norte-americana, a Samsung, por exemplo, indica nacionalizar cada vez mais as peças utilizadas em toda a montagem dos smartphones.

O diretor de produtos e serviços móveis da empresa no Brasil, Roberto Soboll, não detalha quais componentes ainda são importados. Ainda assim, ele ressalta ao DCI que a sul-coreana concentra grandes esforços na produção local, por conta de um detalhe específico do mercado brasileiro.

“A gente sempre customiza a produção daqui, considerando especificações como a TV digital e as câmeras frontais capazes de fazer melhores selfies, já que esse tipo de atributo tem grande apelo com o público.”

Segundo o executivo, a companhia é líder no mercado de aparelhos médios – ou seja, que vão de R$ 499 até R$ 999 – porque se empenha em disponibilizar um cardápio vasto de modelos, com penetração principalmente na classe C.

“Os consumidores deste tipo de dispositivo estão em uma posição intermediária. Não são como aqueles que estão entre os iniciantes, que consomem em geral um modelo mais básico, da base da pirâmide. Nem tem o perfil dos clientes que investem um pouco mais, para adquirir um aparelho top de linha”, diz.

Barreiras

Apesar da tentativa de tornar a fabricação cada vez mais brasileira, alguns obstáculos atrapalham o cotidiano das manufaturas de eletrônicos, como conta o analista do IDC, Leonardo Munin. “As principais lacunas para uma produção nacional ampla são, principalmente, a carga de impostos e a falta de insumos locais.” Ele afirma que os aparelhos na faixa de R$ 500 a R$ 600 já estão custando mais de R$ 700 em 2015, somente pelo reflexo do dólar, mesmo com o abatimento nos impostos.

O analista explica que benefícios como a Lei do Bem, que concede descontos às companhias que embarcam nos aparelhos a TV Digital, desonera uma parcela ainda sutil, considerando a carga total de tributos imposta pelas administrações estaduais e federal daqui.

“O governo está tentando ajudar as empresas. Antes a desoneração descontava de 15% até 20% dos impostos. Em 2015 aumentou a oferta, com 30% menos impostos”.

Ainda assim, segundo dados dos portais do Palácio do Planalto e do Ministério da Fazenda, a carga de impostos bate os 27% do valor dos aparelhos.

Leonardo Munin lembra que mesmo com a diminuição tributária, prevista para durar até pelo menos 2018, a falta de insumos deve manter o País longe da autossuficiência na produção de memória flash e processadores de eletrônicos.

“A gente sabe que empresas como a Multilaser já inauguraram fábricas de chips no Brasil. Outras como Smart, Coletek e Foxconn estão em processo de autorização para plantas de memória por aqui. Mas ainda que a operação das fábricas estivessem a pleno vapor, a oferta interna de matéria-prima não daria conta de toda a demanda”, conclui.

DCI-SP

Compartilhe