O isolamento social do empresário brasileiro

Ao contrário da sobrevivência numa pandemia, manter empresas vivas depende sempre de uma convivência

Artigo escrito por Jorge Segeti*

Ao contrário da sobrevivência numa pandemia, manter empresas vivas depende sempre de uma convivência

Nos últimos meses, temos todos convivido com o chamado isolamento social motivado pela Covid-19, uma dura realidade na área da saúde, que nos deixa como um esperado caráter passageiro.

Já no ambiente de negócios, trata-se de uma situação recorrente, marcada pelo distanciamento de grande parte dos empresários de qualquer orientação ou mesmo a troca de informações com os seus pares, buscando minimizar o sentimento de solidão, tão frequente no dia a dia de quem empreende e precisa tomar decisões praticamente todos os dias.

Enquanto não surge uma vacina, o melhor remédio para os males causados pelo coronavírus é cada um ficar em sua casa, mantendo o mínimo contato possível com as pessoas, além do convívio familiar.

Curiosamente, a solução para o isolamento do empresário brasileiro é exatamente fazer o oposto, ou seja, buscar auxílio em entidades como SEBRAE, sindicatos e associações de sua atividade de atuação, para compartilhar experiências e dados com aqueles que vivem situação parecida, nesta heroica arte de empreender no Brasil.

Já é ponto pacífico entre os especialistas que a solidão excessiva causa pressão alta, predisposição ao desenvolvimento de doenças graves, estresse, ansiedade, depressão, insônia, dor muscular e muitas outras, fato que temos podido comprovar durante a quarentena, com o aumento expressivo de casos.

Se analisarmos a fundo, certamente vamos encontrar diversos empresários acometidos por esses mesmos males. Coincidência?

É também fato que os homens não procuram o médico com a mesma frequência que as mulheres; desprezam os exames preventivos e tampouco tomam medidas até mesmo simples em benefício de sua saúde. O resultado? Segundo pesquisas, vivem sete anos a menos que as mulheres. Essa falta de cuidados com a saúde pode também ser transferida para o universo empreendedor. Estudos do SEBRAE apontam que a maioria das empresas fecha suas portas com um pouco mais de cinco anos de vida e, para 61%, o motivo é dispensar a ajuda de outras pessoas ou instituições.

Voltando às doenças do corpo, é hábito de muitas pessoas procurar o médico apenas para conseguir uma receita e assim comprar os medicamentos que normalmente já utiliza, na prática da sempre condenável automedicação.

O empreendedor, infelizmente, age da mesma forma. Quase sempre, procura seu contador para pedir “receitas” destinadas a sanar dores eventuais e gripezinhas, mas raramente vislumbram no profissional a oportunidade de uma consultoria mais ampla, preocupada em fazer seu negócio realmente prosperar.

Lembra-se de buscar auxílio do profissional que tem a saúde do seu negócio nas mãos apenas quando necessitam de uma declaração de rendimento ou de faturamento, certidões negativas e afins.

Geralmente, pedem estes documentos para obter mais crédito junto aos bancos, fazer investimentos, manter cadastros etc.

Hoje, os cidadãos estão isolados por exigência da saúde, contudo, a maioria dos empresários sempre viveu assim por livre e espontânea vontade, geralmente por acreditar que conhece muito bem sua empresa, ou por imaginar que sindicatos e associações não sejam sérios, e – também erroneamente – que o propósito do contador é apenas cumprir obrigações acessórias para atender o governo.

O isolamento empresarial não é novidade e nem uma doença da moda, causada por um vírus, mas tem sua origem na desconfiança do: ‘eu sei me virar’; ‘não preciso de ajuda’; ‘é muito caro pagar consultoria’.

Para piorar, hoje convivemos com o autosserviço de contabilidade, que pode muito bem ser comparado à automedicação e suas consequências.

Até a ciência achar a vacina para o Covid-19, o isolamento social é recomendado pelos médicos, mas o isolamento empresarial é totalmente opcional.

Se você é empresário, procure auxílio, compartilhe experiências com seus colegas, aproxime-se das entidades que representam a sua categoria. Por enquanto, pode ser de longe, pela internet, por telefone ou e-mail. Trata-se de um santo remédio, não apenas para sua empresa, mas para todo o ambiente de negócios brasileiro.

*Jorge Segeti – CEO da Segeti Consultoria, vice-presidente da Associação das Empresas Contábeis de São Paulo – AESCON-SP e diretor técnico da Central Brasileira do Setor de Serviços –CEBRASSE

Fonte: Contabilidade na TV

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