Reforma trabalhista: derrota do governo expõe desagregação

Postado em 21/06/2017 – Fonte: DCI – SP – Por: Abnor Gondim

Na CCJ, porém, Jucá espera contar com maioria folgada

Com traições e ausências, base aliada é surpreendida em votação na CAS, mas líderes se mostram confiantes de que parecer será aprovado na CCJ e em plenário

Brasília – A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado registrou ontem (20), a primeira derrota do governo na tramitação da reforma trabalhista no Senado: duas traições e quatro ausências mostraram desagregação da base aliada e contribuíram para formar o placar desfavorável e apertado, de 10 a 9 votos, que rejeitou o relatório do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

Ainda assim, o líder do governo no Senado, senador Romero Jucá (PMDB-RR), amenizou o resultado e previu a aprovação da matéria na próxima semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde ele é relator, e depois no plenário da Casa, possivelmente na próxima semana. Se isso ocorrer, o projeto segue direto à sanção do presidente Michel Temer.

O resultado surpreendeu os apoiadores do Planalto, entre eles a presidente da CAS, senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) e próprio relator. Nos cálculos deles, o resultado seria de até 12 a 7 ou 11 a 8 a favor da nova legislação trabalhista, mantendo o texto aprovado na Câmara, sem alterações, para não retornar à apreciação dos deputados.

Traições e ausências

Uma das ausência sentidas foi a do senador Sérgio Petecão (PSD-AC), voto favorável. No lugar dele, entrou o senador Otto Alencar (PSD-BA), que sempre foi contra o governo Temer e votou contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Também se ausentaram mais três senadores “favoráveis” ao projeto: os titulares Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Maria do Carmo (DEM-SE) e o suplente Davi Alcolumbe (DEM-AP). As duas traições ficaram por conta de Eduardo Amorim (PSDB-SE) e Hélio José (PMDB-DF). O primeiro parece ter aderido à ala do partido que prega o desembarque da nau governista. Já, Hélio José tornou-se fiel escudeiro do líder do PMDB na Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), desafeto do governo, e que esteve na sessão da CAS para criticar o projeto.

Comemoração

A oposição atacou de todos os lados, principalmente lembrando da fragilidade do governo diante das denúncias de envolvimento em casos de corrupção. “Nunca votei uma matéria tão contra os trabalhadores quanto esta”, destacou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). “Acabou o Governo. Não adianta dar ares de normalidade aqui, como se nada estivesse acontecendo. É escândalo após escândalo. Qual é a próxima delação?”, questionou o senador petista, antes da rejeição do relatório .

Comemorado pela oposição, o placar da rejeição mostrou a desagregação da base aliada, em meio à viagem de Temer e às vésperas da denúncia da Procuradoria-Geral da República. Temer será acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas somente será processado se a denúncia baseada na delação premoada de executivos da JBS não for rejeitada por 172 deputados.

Tranquilidade governista

Na CCJ, porém, Jucá espera contar com maioria folgada e espera aprovar a matéria, no próximo dia 28. Depois disso, o texto ficará à disposição do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que deverá colocá-lo na agenda do plenário mediante requerimento de urgência a ser apresentado pelos líderes governistas, medida que, aliás, já foi anunciada por Jucá, nesta terça (20). De acordo com levantamento feito pelo DCI, os votos favoráveis ao relatório de Ferraço devem chegar a até 16. Já os votos contrários ficam no limite de 10, na tramitação na CCJ.

“Estamos tranquilos. Esse resultado não afeta a tramitação da matéria na CCJ, onde será lida na quarta (21) e votada no dia 28, ficando a cargo do presidente Eunício Oliveira colocá-la na pauta do plenário”, disse Jucá, justificando a ausência de governistas que prejudicaram a aprovação.

Rússia

De Moscou, Temer minimizou a rejeição do parecer da reforma trabalhista. “Isso é muito natural. Passa por várias comissões, ganha numa perde na outra. O que importa é o plenário”, disse o presidente, e relembrou um revés anterior, relacionado a perda de pedido de urgência na Câmara, superado na votação em plenário.

Abnor Gondim

Foto: Fotos Públicas/Geraldo Magela

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