Falta de emprego faz crescer negócios por necessidade

Postado em 21/03/2016 – Fonte: O Tempo – MG

Em 2015, percentual de abertura de empresa por oportunidade caiu de 71% para 56%

A ideia já existia, mas faltava capital para abrir a biscoiteria. Até que a demissão de Daniela Rodrigues, dispensada da indústria metal-mecânica em outubro do ano passado devido à crise, trouxe os recursos necessários. Sem emprego, o que era sonho virou uma necessidade e o dinheiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) permitiu realizar. No último ano, com aumento do desemprego no país, enquanto o percentual de empreendimentos abertos por oportunidade caiu de 71% para 56%, a participação dos negócios motivados pela necessidade subiu de 29% para 44%. Os dados, da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), consideram microempreendedores individuais que abriram o primeiro negócio.

De 2007 a 2014 – quando o cenário econômico era mais favorável com juros menores e políticas de incentivo ao consumo–, a fatia dos negócios abertos por oportunidade se manteve bem superior, na faixa dos 70%. No ano passado, o índice da necessidade disparou. “A questão está relacionada com a dificuldade da reinserção no mercado de trabalho”, explica a gerente da unidade de inteligência empresarial do Sebrae-MG, Carolina Xavier.

Carolina ressalta que independentemente do cenário, de prosperidade ou dificuldade, prestar atenção em questões gerenciais é fundamental. “O conhecimento é essencial desde a concepção do projeto. Tem que identificar a oportunidade naquele setor, estudar o posicionamento no mercado e pesquisar o público, pois, quanto mais planejado, maiores são as chances de sucesso”, avalia a especialista.

Mesmo com o cenário econômico desfavorável e a necessidade mais imediata de construir uma fonte de renda, Daniela e o marido Warley dos Reis conseguiram seguir esses passos. “Eu já tinha um plano de negócios de abrir uma biscoiteira feito para um trabalho de conclusão do curso de administração. Então, fiz uma pesquisa de fornecedores de biscoitos. Antes de alugar a loja, fiquei na porta com um contador em diferentes horários e verifiquei que das 7h às 9h, 1.300 pessoas passaram na porta. Das 11h30 às 13h, passaram 2.500. Depois fiz pesquisa com os consumidores, perguntando se eles gostariam de ter uma biscoiteria naquele ponto”, conta Reis, que abriu a Biscoiteira Platina em janeiro, na rua de mesmo nome, no bairro Prado.

Estratégia. A loja foi aberta estrategicamente perto de escolas e o planejamento rendeu frutos. “Deu tão certo que já estamos negociando uma segunda unidade em Contagem e estamos conversando com dois investidores interessados neste modelo de negócio, que pode virar uma franquia”, comemora o microeempreendor. Segundo Reis, diante de uma economia desaquecida, além da estratégia, os diferenciais ficam por conta de uma atenção especial com os custos, na oferta diversificada de produtos e na campanha via redes sociais.

“Fizemos uma grande pesquisa para conseguir fornecedores com preços especiais e oferecemos opções de biscoito para todos os públicos; sem açúcar, sem glutem, sem lactose e também orgânicos”, conta o empresário que, além do público das escolas no entorno, já fechou parcerias para fornecer lanches para empresas da região.

Cada vez mais

Solução para crise. Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) revela que de 2014 para 2015, o total de pessoas que conhece alguém que abriu um negócio subiu de 38% para 52%.

Empreender está no topo dos desejos

No Brasil, quatro a cada dez pessoas têm um negócio ou estão envolvidos na abertura de um, segundo levantamento do Sebrae. Segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), esse sonho é apontado por 34% da população e supera a vontade de ter um diploma de curso superior (29%) e de fazer carreira dentro de uma empresa (29%).

“Ter um negócio sempre esteve no topo dos sonhos dos brasileiros, ao lado da casa própria. Mas antes, a pessoa tinha uma boa ideia e agarrava a oportunidade. Agora muita gente pensa: ou empreendo ou morro de fome”, analisa o coordenador do núcleo acadêmico de vocação empreendedora do Ibmec, João Bonomo. “O problema é que existe um risco altíssimo de aumentar a taxa de mortalidade das empresas”, destaca.

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